Reconhecimento de Pénelope a Ulisses
Euricléia
Acorda! Penélope minha filha, vem
Contemplar com teus olhos aquilo que
todos os dias esperavas. Ulisses
chegou, tarde, eu sei, mas está aqui. E
matou os nobres pretendentes, que lhe
freqüentavam a casa, devoraram os bens e
maltratavam os filhos.
Penélope
Mãezinha, os deuses te enlouqueceram?
Podem eles tornar insensato o mais sensato?
Como também restituir a razão de um fraco espírito.
Eles te perturbaram, ainda há pouco tão
ajuizada... Quando tenho o coração
cheio de tristeza, por que vens zombar
de mim? Por que me despertas deste
agradável sono que me fechava?
A verdade, nunca dormi, sono igual a
este, desde o dia que Ulisses partiu para
a maldita Ilion. Mas desce e volta
imediatamente à sala, porque se fosses
outra, uma das minhas escravas que
desse dar-me esta notícia e perturbar-me
o sono, eu imediatamente a teria destruído.
Não faço, pela tua idade avançada.
Euricléia
Não estou zombando de ti. Ulisses
chegou de verdade, e ele está em casa.
Como digo: É o estrangeiro que todos
insultavam no palácio.
Há muito que Telêmaco estava
informado de sua presença mas por
pai, aguardando que ele punisse as
exigências daqueles homens
desaforados.
Penélope
Pois bem, mãezinha, dize-me com toda
franqueza. Se, de fato, ele chegou a
esta casa, como afirmas de que modo
conseguiu, sozinho, abater com força
de seu braço os pretendentes, que
eram muitos?
Euricléia
Nada vi e nada me disseram, ouvi apenas
os gritos dos que iam caindo mortos ao
chão. Pois nós éramos totalmente
medrosas, até que teu filho
Telêmaco, por ordem do pai, me veio
chamar, encontrei então Ulisses entre
os cadáveres de pé. Teu coração se
regozijaria se tivesse o visto todo
manchado de sangue como um leão !!
Agora estão todos empilhados. Ulisses
purificou a magnífica sala queimando
enxofre numa fogueira, e mandou-me
buscar-te, segue-me, pois, para que os
corações de vós ambos comuniquem na
mesma alegria, após tantos
sofrimentos. Cumpriu-se neste dia o
voto há tanto tempo acariciado. Ulisses
voltou vivo ao lar, e em seu palácio
encontrou-te e encontrei seu filho e
aos que tanto mal lhe causaram, aos
pretendentes puniu-os todos em sua
casa...
Penélope
Ama querida, referi esses
transportes, todo esse júbilo!
Sabeis quão ditosos seríamos todos, se ele
aparecesse em casa, principalmente eu e
este filho que geramos. Mas a
notícia, que me trazes, não é de todo
exata: Quem matou os ilustres
pretendentes foi algum dos
imortais, algum ‘’Deus’’ revoltado pela
cruel insolência ou suas ações
indignada pois que não respeitavam
homem algum da terra, vilão ou
nobre, desprezando quem deles se
intromete-se. A loucura deles lhes valeu o
desastroso fim que tiveram. Quanto a
Ulisses esse perdeu, longe custa a
esperança de regressar á terra de
Tróia, pois que já pereceu.
Euricléia (replicou)
Minha filha, que palavra te escapou
Da barreira dos dentes! Seu esposo
se encontra em casa junto à lareira
e tu afirmas que nunca mais
voltará. Pois bem, vou te dar outro
sinal, e este sem réplica: a cicatriz da
ferida que outrora um javali lhe fez
com seu alvo defesa. Levava-lhe os
pés, quando a reconheci e quis dizer-te,
mas ele ta tapando-me a boca com as
mãos, proibiu-me de falar. Tinha seus
planos prudentes! Segue-me, pois tal
como me vês, dou a vida como fiança:
se te engano, mato-me com a mais
cruel das mortes.
Penélope
Minha querida, por clarividente que
sejas, não consegues penetrar os
secretos desígnios dos ‘’Deuses’’
sempriternos. Mas deixamos essas
considerações, e vamos junto de meu
velho ver os pretendentes mortos e
aquele que os matou.
Telêmaco
Minha mãe, desnaturada mãe, de
Coração cruel, porque assim te
conservas, afastada de meu pai, e não
vais sentar-te a seu lado e assediá-lo
com perguntas? Nenhuma outra
mulher teria o coração tão insensível,
pra assim permanecer afastada
do marido que volvido vinte anos
após, regressasse á pátria, depois de
haver sofrido males sem conta. Mas a
tua alma é mais dura que a rocha.
Penélope
Meu filho, no meu peito o coração
sente tomado de espanto. Não posso
articular palavras, nem interrogá-lo,
nem sequer fixá-lo de frente. Mas se, de
fato, este é Ulisses, que volta a casa,
sem dificuldade nos reconheceremos
um ao outro, por que certos sinais, que
só nós conhecemos, que os outros
ignoram.
Ulisses
Telêmaco não incomodes tua mãe, que
Deseja ainda pôr-me a prova nesta casa.
Em breve, ela me reconhecerá, sem
lugar á duvidas. No momento, estou sujo
e coberto apenas vis farrapos, por isso
ela me desdenha e não diz : é realmente
ele. Quanto a nós, estudemos a melhor
maneira de tudo surtir bom efeito.
Se alguém, nesta terra, matou um
homem, um só, e sem ninguém lhe vingue
a morte,o criminoso exila-se e
abandona os parentes e a terra pátria.
Ora, nós derrubamos os baluartes da
Cidade, os jovens das mais ilustres
famílias e aconselho-te a que penses na
situação que criamos.
Autores: Rariane Barbosa, Daiane Cristina, Isabelle Laize e Diogo Mariano - Turma 1002.
Digitação: Dejenany Dantas - Turma 1004.