Literatura Grega - Drama

 

Tragédia Grega

 

É uma forma de representação teatral específica dos Gregos. O teatro, na Grécia, não era um simples divertimento como hoje; nós escolhemos a peça que queremos ver, o dia que nos convém. As representações teatrais eram dadas em datas fixas, três vezes por ano, nas festas de Dioniso.

Era uma festa religiosa e cívica:

As festas mais importantes eram as Dionísias Urbanas, em março, numa época onde, depois do inverno, a navegação podia recomeçar. Vinham embaixadores das cidades aliadas, viajantes estrangeiros (quer dizer, os Gregos de outras cidades). A hegemonia de Atenas dava a essas festas um caráter pan-helênico.

Eram 6 dias de festas, sendo 5 de representações teatrais. Era uma espécie de festival dramático.

No primeiro dia havia uma procissão para instalar no teatro a estátua de Dioniso, tirada do seu templo, e se fazia uma hecatombe: um sacrifício de cem touros no altar situado no centro do teatro.

No segundo e terceiro dias, havia apresentação de ditirambos, dramas líricos, espécie de oratório cantado e dançado por cinqüenta executantes, sem atores.

Os quarto, quinto e sexto dias eram dias de espetáculos dramáticos. Em cada um desses dias, um dos poetas escolhidos devia apresentar três tragédias (uma trilogia) e um drama satírico com meia hora de intervalo entre cada um deles. À tarde, se apresentava uma comédia.

No sétimo dia, havia prêmios.

Aparece bem o contexto religioso, ritual ligado a Dioniso (ou Bacco), deus da vinha e da inspiração, acompanhado de um cortejo de sátiros e de mênades ou bacantes, o que teria resultado mais tarde nas representações teatrais. Mas as representações eram também uma instituição cívica bem regulamentada. Foi Pisístrato, em 534 a.C., que instaurou os concursos trágicos. O que mostra o quanto a tragédia é ligada à democracia.

 

 A estrutura da tragédia:

A composição da tragédia era a seguinte:

Prólogo: um ator

Párodo: entrada do coro ao som da flauta

Episódio: dois ou três atores. O ato é falado em trimetro iâmbico.

Stasimon: canto do coro já instalado

Essa seqüência (episódio seguido do stasimon) se repete de 2 a 5 vezes.

Êxodo: saída do coro.

Os temas das tragédias:

De que se tratava nessas tragédias? Dos mitos tradicionais da Grécia: das personagens da guerra de Tróia, dos reis de Tebas no começo dos tempos, dos deuses: Zeus, Atena, Dioniso etc...

Desses mitos, os poetas não hesitavam em selecionar aqueles que lhes convinham, para educar os seus compatriotas. Eles cortaram, simplificaram para destacar o herói: quando ele tem um destino humano, sofre como os homens. O herói difere dos homem do século V a.C. só pela amplitude da sua queda, quando é vencido. Por isso, ele aparece como o paradigma da condição humana e de seus males.

Os espectadores conheciam a história escolhida, mas os poetas “constroem” o enredo, modificando ou adicionando fatos, para que os dados do mito se tornem significantes. Era preciso que os atenienses vissem um problema humano. Era mister que aparecesse a confrontação de duas teses, que se pudesse ler, na história apresentada, uma interrogação sobre o que é o homem e como deve agir.

É no teatro que o ateniense vai continuar a se educar. Ele não vai ao teatro para se divertir, conhecer uma história bem imaginada; ele vai para aprender, graças aos mitos, a resolver os problemas que encontra na sua vida. A epopéia apresentava heróis à admiração dos ouvintes. Na tragédia, os heróis transformavam-se e os espectadores deviam fazer um esforço de lucidez, de análise, de organização racional.

Poderia parecer intelectual demais, mas os episódios são ações, as personagens são seres que se vêem viver. A teoria se traduz em imagens da vida, que se percebem por todos os sentidos.

Os mitos

Significado da palavra

A expressão vem do grego “mitho, que quer dizer “palavra”. O mito é a palavra proferida, um discurso, um relato apresentando seres incarnando de forma simbólica forças da natureza, aspectos da condição humana.

Estes contos procuram dar uma explicação do mundo, fazendo com que os fenômenos sejam inteligíveis e assim dêem ao homem um meio de agir sobre o universo. Nesse universo cheio de incertezas e de mistérios, o mito aparece para introduzir o elemento humano.

O mito é uma hipótese de trabalho, uma tentativa para sair da impotência na qual nos encontramos.

 

Conclusão

Os mitos gregos, onde se forneciam os trágicos, são cheios de horrores, e lembram as primeiras ligações entre os homens. Mas acontece que esses mitos se tornaram o tema de obras literárias, insistindo justamente sobre a crueldade e o escândalo desses crimes anti-naturais. O resultado é que a emoção suscitada pela tragédia se enriquece de experiências melhores que as outras para transtornar o homem nas suas emoções essenciais. Segundo Aristóteles, a tragédia suscitava terror e compaixão. Por isso, esses casos imaginários tinham de ser fortes e excepcionais. É por isso que a psicanálise se reconheceu nesses dados. As tragédias gregas tratam de temas que suscitam emoções essenciais no homem e mostram que o homem depende de uma transcendência. A tragédia propõe mais perguntas do que respostas. Uma situação pode ser triste, horrível, dramática, nesse caso, ela inspira compaixão para aquele que se encontra nela. Pode se dizer que ela é trágica quando, por uma espécie de recuo, aparece sem solução e sem recurso, como a prova de sofrimentos pelos quais o homem pode ter de agüentar.

Será que o mundo não tem ordem nem sentido? Que tudo seja absurdo?

Diferentemente dessas obras modernas inspiradas pelo absurdo, que desesperam, a tragédia construída ao redor de um ato a cumprir é uma afirmação do homem. A palavra “drama” quer dizer ação. Na tragédia, se luta, se tenta agir bem, e tudo o que é feito em bem ou em mal tem sempre graves conseqüências. Só isso já é tônico. Tem mais: na medida onde o homem se confronta com obstáculos contra os quais não pode nada, ele se torna quase maior e inocentado. Mesmo quando são apresentados como culpados, mesmo quando as paixões os seduzem, eles são tais só porque o erro é inerente ao homem, ou porque responde a sofrimentos que também pertencem ao homem.

Monique Konder Comparato

Colaboração e pesquisa: Claudia Dutra - Orientadora Tecnológica.